17.10.09

Novo Capitulo Na História de Colom(bo)

"E assim aconteceu o que diz Goebbels: “uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade”. E um tecelão genovês transformou-se num nobre que se sentava à mesa de reis." Estas palavras, carregadas de informação, são da Autora de delicioso nome, Fina D'Armada. A Autora, defende assim o trabalho do Historiador Manuel Rosa, que como ninguém, se tem dedicado a desvendar a verdade sobre o re-descobridor, conhecido como Cristovão Colombo. Manuel Rosa tem um novo livro. A introdução de Fina D'Armada, provém dai. Colombo Português, o título, revela que o assunto deverá interessar a todos os Portugueses, e porque não, aos lusófonos igualmente. Manuel Rosa condensa 18 anos de trabalho meticuloso neste livro, apresentando-nos de forma fácil e acessivel, a verdade que ilude eruditos historiadores há mais de 500 anos. Toda a verdade? Ainda não. Mas mais próximo da verdade, que nunca.

27.6.09

Dom Afonso, O 1º Português, 900 anos depois

Homenagem simbólica ao 1º Português, aquele que receberia o meu voto no “Grande Português” pela sua vida épica e a sua obra chamada Portugal, sem a qual nada do que conhecemos existiria como é hoje.

Fica ainda o apelo - deixem-se de burrocracias e abram o túmulo de D. Afonso Henriques à ciência!!! Até nisto somos dos mais atrasados...

Para informações adicionais sobre o Iº Rei de Portugal, ver mais abaixo neste blog.

Anotações pessoais sobre o vídeo:

0.01 min.

Acho que todos os Portugueses sabem que o estandarte de D. Afonso Henriques, e por conseguinte, o de Portugal, era uma cruz azul sobre fundo branco. O que já devem desconhecer é porque razão estas cores nacionais foram substituídas na bandeira actual. Volto ao assunto na nota sobre o minuto 1.18.

DATAS

1109 - Data do nascimento de D. Afonso Henriques, o local ainda é alvo de debate. O que interessa é que nasceu em Portugal.

1128 - Vitória das hostes de D. Afonso Henriques na Batalha do campo de São Mamede, junto ao castelo de Guimarães - a chamada 'Primeira Tarde Portuguesa'.

1148 – Por falta de espaço no vídeo, condensei vários acontecimentos que aconteceram até esta data, sendo os mais significativos a famosa Batalha de Ourique em 1139, o tratado de Zamora em 1143, e a Conquista de Lisboa em 1147/1148.

1179 - o Papa Alexandre III reconhece oficialmente Portugal como país independente, através da Bula Manifestis Probatum.

0.05’’

Conquistas mais importantes.

0.16’’

Mapa do Condado Portucalense, antes da acção de D. Afonso.

0.18''

A fronteira avança para lá do Mondego e no espaço de cerca de 20 cobre praticamente todo o Alentejo.

0.25’’

A espada erradamente atribuída ao rei fundador é anacrónica em relação às pesadas espadas e montantes que se usavam no Século XII.

1.18''

As históricas cores azul e branca, baseadas no escudo de Dom Afonso Henriques foram aprovadas nas Cortes Gerais da Nação em 1821.

Em 1911, sem consulta pública, as cores de Portugal foram substituidas pelas de um parido (Republicano), sendo actualmente o único exemplo no mundo em que a bandeira de um partido continua a representar um país. O outro exemplo, era a União Soviética...

1.20''

D. Afonso de Stª Maria, filho primogénito de D. Duarte de Bragança, descendentes de D. Afonso Henriques.

Tal como durante as cerimónias de Canonização de Nuno Alvares Pereira, os parentes vivos em linha mais directa destas figuras Históricas são "esquecidas" ou escondidas pelas "autoridades", com mal disfarçado constrangimento por ainda restarem descendentes dessa linhagem histórica, que tantas comemorações nacionais ainda motiva. Aliás, as únicas dignas de tal.

Nota Final

Em relação ao cavaleiro, simboliza não só Rei mas todos os Portugueses que lutaram e acrescentaram este país. Sendo D. Afonso Henriques o "Pai" da nação, achei por bem usar algumas imagens de arquivo do meu pai, a cavalo - não é um cavaleiro exímio, mas é fotogénico. :D

30.5.09

Conferência "Lugares Históricos" Prof. J.Hermano Saraiva

O Professor e grande comunicador, na apresentação do seu novo livro, revela, ao seu jeito, curiosidades sobre os Portugueses.

25.4.09

D. Nuno Alvares Pereira, Santo

Um grande homem, um herói invicto, o auge do espírito cavaleiresco, um exemplo. E agora, um livro.

10.10.08

De Colom a Colombo, Do Alentejo à América

Dizem que descobriu a América, falta descobrir a sua verdadeira identidade. Este livro é mais um passo para a descoberta. http://amigosdacuba.no.sapo.pt/

5.7.08

Rumo

"Os Portugueses odeiam o passado por já cá não estar e o presente por não ser igual ao passado." Miguel Esteves Cardoso in A Minha Andorinha

5.1.08

Centenário do Regícidio

Se há histórias mal contadas ou ainda por contar, a do Regícidio de 1908 é a rainha delas. A diferença entre o silêncio que pesa sobre este crime e algumas teorias da conspiração como, Colón ou o Políptico dito de S. Vicente, é que no caso do duplo regícidio a conspiração é evidente e assumida, mas ainda assim, muito pouco transparente. Com o assinalar do centenário de tão nefasto acontecimento nacional, e com a produção de uma série de obras sobre o assunto, talvez seja possivel que se exumem finalmente todos os factos ocultos. A história aqui é contada quase em directo, nos relatos arrepiantes da imprensa da época.
Se essas leituras fossem televisão, teria certamente uma bola vermelha ao canto. Ao canto, também, da esquina da Praça do Comércio/Terreiro do Paço com a Rua do Arsenal, encontra-se, envergonhada, uma pequena placa que marca o local e a data do terrivel crime.
VIVA O REI, VIVA A MONARQUIA!!!
Foi um acto bárbaro, lamentável e desnecessário. As suas implicações e consequências desagradáveis, ainda hoje se fazem sentir, pelo que a relevância deste acontecimento têm sido negligênciada. Terá sido mesmo o momento mais determinante na História do Século XX Português. Tudo o que sobreveio depois desde essa hora aziaga em 1908, é o resultado do atentado - não só contra o Chefe de Estado de então e o seu herdeiro, mas também contra Portugal.
1908 - 2008 Dom Carlos I e Dom Luis Filipe de Bragança.

23.12.07

A História, Essa Mal Amada

Não será muito comum ver pessoas num café a discutir o teorema de pitágoras ou outros temas da matemática, da física ou da biologia. Mas já sobre a História, toda a gente tem opinião e pensa saber algo. O passado é discutido como se toda gente tivesse estado lá. Acontece que mesmo entre quem de facto esteve lá, as versões divergem. Com excepção da Religião e do Futebol, não deve haver outra matéria tão discutida sem alicerces de conhecimento. Mas sempre será melhor do que ser igonrada, incompreendida ou apenas desprezada...

Muitas pessoas estão absolutamente desinformadas sobre a história de Portugal e misturam factos e lendas ou confundem e trocam parte dos dados. Mas quando, de forma pedagógica, se tenta corrigir os equívocos, as pessoas não aceitam que possam estar erradas.

Ainda há pouco tempo, alguém que tinha uma certeza inabalável numa inconsistência, até foi consultar uma amiga licenciada em História para continuar a argumentar que determinada rainha, esposa de Henrique VIII, era Portuguesa. A tal amiga confirmou e o indivíduo continuou ainda mais convencido da portugalidade de D. Catarina de Aragão. Mais, as pessoas que estavam à sua volta alinharam na mesma versão, ainda que nenhum fosse licenciado em História, como a tal amiga.

Às tantas, até eu, que tinha certeza que a rainha era filha dos Reis Católicos, portanto Espanhola, quase comecei a alimentar uma pequena incerteza… Por fim, consultadas as fontes mais actuais, não se verificou nenhuma descoberta de paternidade duvidosa, nem nenhuma gralha genealógica na árvore familiar da esposa #1 (de 6) do rei Inglês, pelo que finalmente tiveram todos que aceitar que nenhuma Portuguesa teve a infelicidade de ter desposado o famigerado Henry 8th.

Um histórico feliz Natal e um 2008 cheio de boas histórias.

30.11.07

Conjura e Restauração de D. João IV

A figura do duque de Bragança, antes de se tornar D. João IV, tal como D. João VI, tem sido menosprezada por alguns autores, que, intencionalmente ou não, tentam passar a imagem de um homem frouxo e irresoluto, que empalidece em comparação com a sua esposa ambiciosa e espanhola por sinal, a qual terá rugido um “antes morrer reinando, do que viver servindo”... No entanto, uma nova leitura revela um perfil mais condicente com um homem com verdadeiro sentido de Estado, como se diz hoje em dia. Afinal, quando o grupo popular (no sentido em que englobava todos os estratos sociais) se designa "conjurados" ou seja, homens de posição que se juntam em segredo, para arquitectar com todo o cuidado o derrube de um poder instalado, que já havia extinguido anteriores tentativas de dissidência. Estes não são uns meros cidadãos temerários, sem nada a perder; antes demonstram que tudo foi muito bem pensado e combinado, no mais profundo sigilo para não comprometer revolta. Do outro lado estava uma das maiores potências do mundo, bem armada e posicionada para esmagar qualquer rebeldia. Portanto, D. João IV, apesar de sempre vigiado e suspeito, teve a ousadia de perceber e ajudar a proporcionar as condições ideias para o sucesso da revolta, da qual esteve sempre em contacto, apesar de não ter participado directamente no assalto ao Paço, nesse dia 1º de Dezembro. E é claro que o super-herói musculado de capa e espada ou que se vira para a câmera e diz "hasta la vista baby" depois de despachar uma centena de mauzões, tem sempre mais encanto do que a personagem que manobra na sombra.

4.11.07

D. João VI

D. João VI tinha com certeza bastantes defeitos, mas muitos menos dos que se lhe atribuem. Penso que o retrato que melhor o descreve (e mais lisonjeiro), é o feito pelos Ingleses, talvez na sua gratidão por El-Rei ter obstinadamente cumprido a Aliança de Portugal com o Reino Unido, mesmo à custa do seu reinado em Lisboa... Por outro lado, a Historiografia das Repúblicas (as três, incluindo o Estado Novo, quer queiram quer não) nutre-lhe um desprezo máximo e tem usado este monarca e o seu reinado como o exemplo pior do que a Monarquia tem para oferecer, como se a Monarquia Constitucional fosse igual ao Absolutismo que então vigorava por quase toda a Europa. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, penso ser a imagem mais justa do sexto dos Joanes que reinaram em Portugal. D. João VI tem imenso a seu desfavor, começando logo com a sua aparência. Aquele aspecto de Porky Pig não lhe granjeia definitivamente muitas simpatias. Depois, a mãe louca também não é propriamente a melhor referência, assim como a debandada para terras de Vera Cruz aquando da 1ª Invasão Napoleónica; ou a associação do seu nome e dos seus descendentes à emancipação do Brasil, ou ao regímen Absolutista, ainda hoje abusivamente confundido com a Monarquia Constitucional, por alguns. Mas será o réu, perdão o rei culpado de todos estes "crimes"? Bem, com base em todas fontes que consultei até hoje, e principalmente, da comparação entre as correntes principais Inglesas e Portuguesas, surge o seguinte quadro: No dealbar do séc. X!X, Portugal era uma pálida imagem do que havia sido entre o séc. XV e o séc. XVI, onde Portugal era o país mais progressista da Europa. A Inglaterra e a França, que em 1452 ainda lutavam na Guerra dos 100 anos, enquanto Portugal já navegava o Atlântico Sul, por esta altura já avançam, literalmente, 'a todo o vapor' após encetarem a Revolução Industrial. Portugal não está em posição de enfrentar nenhuma das potências da altura, tendo ainda uma aliança com uma delas por respeitar ou quebrar. Equacionando as forças, uma era uma potência marítima (Inglaterra), a outra continental (França). A ligação marítima de Portugal às colónias era fundamental para a própria sobrevivência do reino. D. João VI, praticamente acabado de ser empossado, é confrontado com pressões terríveis de ambos os lados. O seu próprio Conselho de Estado está dividido. Tenta através da diplomacia e de todos os expedientes ganhar tempo e manter-se neutro. Chega-se mesmo a aventar um preço para Portugal pagar pela sua neutralidade. 1807 - Napoleão sabe que o bloqueio continental só pode resultar se os portos de Portugal e do Brasil estiverem efectivamente fechados aos Ingleses; e sabe também que Portugal nunca poderá submeter-se voluntariamente a essa pretensão. Com as tropas de Junot em marcha forçada, já dentro do território Português, o Rei ainda tinha esperanças de manter a neutralidade do país, pelo que as ordens eram da não hostilizar os Franceses. A fuga - inevitável. A história (e o próprio Napoleão, nas suas memórias) provou que estava certo. Claro que nunca saberemos o que teria acontecido, se tivesse decidido ficar e enfrentar os Franceses. Provavelmente seria visto com melhores olhos, mas o mais certo é que Napoleão tivesse investido muito mais em força contra Portugal, pessoalmente até, devastando o país ainda mais, com o resultado que tiveram os restantes países invadidos, com excepção da Rússia. A cobardia - há de facto uma certa dose de cobardia em fugir, seja para onde for for. Porém, por alguma razão é uma das estratégias mais bem sucedidas na Natureza. Os Árabes, pelos vistos antes de existirem os bombistas-suicidas, tinham um provérbio - "Fugir, para lutar mais um dia"; algo que teria possivelmente salvo a vida ao rei D. Sebastião, em Alcácer Kibir... e, talvez tenha... embora a reputação, essa perdeu-a de certeza... Certo é que ninguém chama cobarde a um árabe, pelo menos se der valor à vida. D. João VI foi um pouco cobarde, sim. Não pela fuga, mas pelos termos com que a desencadeou, sem deixar esperança ou uma orientação clara aos que ficavam para trás. Mas, dado o clima da época e a falta de preparação que D. João teve para reinar (não era o primogénito), ele próprio deve ter sofrido imenso com a decisão, que não foi só sua, mas de alguns conselheiros e da aliada Inglaterra. A desorganização da partida da Corte para o Brasil, indica que se tentou até ao último momento evitar a fuga. (Não seria a última vez que Portugueses seriam deixados à sua sorte – durante a 1º Guerra Mundial, em que a República recém-criada fez questão em participar, os soldados Portugueses, já de si mal-equipados, foram abandonados pelo governo e pelos seus superiores, facto que não seria esquecido pelo assassino de Sidónio Pais.) Porém, D. João VI mostrou, por outro lado, alguma coragem. Coragem que faltou a outros soberanos da Europa, que não usaram desafiar Napoleão. Ignomínia maior, pode-se dizer que foi a praticada pelo monarca espanhol, que, depois de fazer um acordo de protecção mútua com Portugal, pretendeu dividir o país com os Franceses, facilitando-lhes inclusive a passagem, e, involuntariamente, expôs-se ele próprio à ocupação. À vista do que se tinha passado em Espanha, onde o monarca espanhol havia sido capturado e substituído por um parente de Napoleão, era de facto imprudente continuar em Lisboa. Seja como for, sem este episódio negro na nossa História, não teria existido essoutro grandioso, da insurgência popular que abalou os "Conquistadores da Europa". Foi o início do declínio de Napoleão, como ele próprio reconheceu, com derrotas na frente Ocidental e depois na Oriental. O Brasil - Não é justo acusar D. João VI pela perda do Brasil. Pelo contrário, o rei, assim como D. Pedro, tinham uma visão muito mais ampla do que era Portugal e o Brasil - eles viam os dois territórios como um único - o Reino Unido de Portugal e Brasil. Foram os políticos de Lisboa, na sua visão mesquinha de conservar o Brasil como uma dependência secundária da Metrópole, como se fosse mais um território longínquo sem lei nem religião, que motivou a separação. O Brasil, tal como as restantes colónias, nunca foram suficientemente desenvolvidas (ou exploradas, chamem-lhe o que quiserem) por Portugal até ser tarde demais. Quanto a ser um soberano Absolutista, pai de D. Miguel, com tudo o que isso significa hoje, é preciso colocar as coisas no devido lugar. D. João VI foi um homem da sua época, assim como D. Miguel ou D. Pedro IV. E essa foi uma era de viragem. Foi ainda assim o primeiro rei Constitucional. Concluindo, D. João VI esteve longe de ser um rei pródigo, de pulso de ferro, à altura dos acontecimentos, mas não fica atrás da maioria das personagens do seu tempo. Não nasceu para ser rei, não nasceu para ser guerreiro (nem tinha físico para isso), mas acabou por ser mais influente do que a maioria dos seus pares. Na História de Portugal, cabe-lhe de facto o VI posto - atrás de D. Afonso Henriques, D. João II, D. João I, D. Manuel I, e D. Sebastião em importância e impacto nos destinos de Portugal.

21.7.07

O 1º Português

Recentemente, devido à polémica entrevista do laureado Nobel, José Saramago, a memória histórica do Fundador foi alvo de muitos poortugueses, com "p" pequenino mesmo, que culpam o nosso primeiro rei pelo estado actual da nação por D. Afonso Henriques "inventada". Esses descontentes não perdoam ao primeiro monarca do condado Portucalense primitivo, a audácia de ter separado os destinos do que viria a ser Portugal e Espanha. Para esses "iberistas", aparentemente, a culpa de Portugal estar hoje na "cauda" da Europa, em quase tudo, deve-se à atitude "irreflectida" de um jovem da nobreza Portucalense, há quase 900 anos, que ambicionava para si honras e mordomias sem fim... honras e mordomias que estes "iberistas" estão prontos a receber, em troca da identidade de um país com as fronteiras consolidadas mais antigas da Europa, com um povo, uma cultura e uma língua homogénea, e uma história das mais singulares e admiráveis do planeta.

Por muita lógica que uma "Ibéria" unida tivesse, não há lógica nem honra em desdenhar dos antepassados que nos deixaram um legado, do qual só nos podemos orgulhar, seja qual for a leitura que se faça destes mais de 800 anos de história. História essa que nem começa em D. Afonso I, mas ainda mais atrás, em Viriato e nos povos independentes, que resistiram enquanto puderam à conquista romana. Ainda hoje se discute se esse desejo latente de autodeterminação sobreviveu através das eras, com o reforço mais tarde, de uma identidade Sueva no Noroeste Peninsular... seja qual for o final da discussão, e aceitando-se que existiram também interesses mais mundanos por detrás da emancipação Portucalense, a verdade é que o filho do Conde D. Henrique prosseguiu um rumo já traçado e trilhado anteriormente, inclusive por seu pai; sublinhe-se que a ambição pessoal e a vã glória de mandar não são marcas associáveis a um rei que preferiu lutar a sua vida inteira, na conquista, na defesa e na consolidação de um território que "ofereceu" à Santa Sé. Diz-se que quando faleceu, deixou os cofres do novo estado bem cheios, coisa que não ocorre nos dias de hoje...

Mau grado a má reputação que algumas "más línguas históricas" fazem circular, D. Afonso Henriques, enquanto político e militar, foi um homem que serviu, sem se "servir" do país, mesmo contra o partido da mãe (não consta que tivesse batido em Dª Tareja - ou Teresa, embora a tenha mantido cativa, por força da guerra que os opunha) e fez disparar a velocidade da reconquista cristã para sul, ocupando-se igualmente do povoamento das terras recém-adquiridas, que na sua maioria, ficariam a fazer parte do novo reino, de maneira permanente. Não fosse o precalço de Badojoz, com o infurtúnio da sua queda do cavalo, caíram também as esperanças de termos hoje um território mais dilatado (mapa 1168). No entanto, à hora da sua morte (1185), deixou-nos muito mais terra do que a que recebeu dos seu antepassados, e mais do que isso, deixou um território com alicerces bem assentes para o futuro.

Corajoso, manhoso e inteligente, foi admirado (e muito temido) pelos adversários, ficando conhecido pelos mouros como Ibn Anrique (Filho de Henrique), apesar de se aventar também a hipótese de que não seria verdadeirament filho nem de D. Henrique nem de D. Tareja, porque esse teria nascido muito débil e incapaz de vir a ser o guerreiro e o lider que a história regista... (a lenda diz que o fiel aio Egas Moniz terá conseguido a recuperação milagrosa do infante em Cárquere, enquanto outros dizem que terá substituido o enfermo principe por um dos seus próprios filhos, o que explicaría a tal suposta agressão à "mãe" adoptiva e a dedicação extrema do "aio".) O primeiro rei foi também o monarca que mais anos reinou, tendo deixado uma herança e um exemplo difícil de igualar. Quantos puderem dizer o mesmo ou mostrar obra parecida, esses podem então censurar semelhante personagem da nossa história colectiva.

Já agora, se alguém é responsável pela ruptura da unidade ibérica, os culpados são os mouros que invadiram a península em 711...

15.7.07

Depois dos Tomates, as Espadas

Depois de Colombo/Cólon, a descoberta da Austrália, e do Políptico dito de S.Vivente, outro mito aparece dismistificado, em "Homens, Espadas e Tomates". A páginas tantas, mais concretamente pág. 166 a 168, Reiner Dahnhardt demonstra magistralmente que a espada erradamente atribuida ao rei fundador D. Afonso Henriques, tão abundantemente representada na estauária nacional e no estandarte e equipamento do Vitória de Guimarães, não podia ter pertencido ao nosso primeiro monarca, simplesmente porque é anacrónica em relação às pesadas espadas e montantes que se usavam na altura da fundação de Portugal, no Século XII. É fácil dize-lo agora, mas a verdade é que sempre me impressionou como D. Afonso I poderia ter talhado um reino, com tão pequena espada... será mais como a espada da estátua à esquerda, que embora quebrada, representa uma espada mais contemporânia de D. Afonso Henriques. Conhecendo-se a tipologia das espadas utilisadas na primeira fase da era das Descobertas, entende-se melhor a origem dessa espada, e até o seu provável dono, também ele Afonso, e um monarca de Portugal

4.7.07

Heróis, Espadas e Testosterona II

Ainda sobre o livro e o tema descrito no post anterior, acho que ficou bem explicito o significado do titulo da obra; mas de qualquer maneira, para que não restem dúvidas sobre a quem pertenciam os “tomates”, aqui fica um breve excerto do que pode ser encontrado no livro:

Fica a saber (Suleimão Paxá, um eunuco turco que comandava um exército enorme, durante o 1º cerco de Diu, e que endereçou uma missiva insultuosa a António da Silveira, capitaneava uma guarnição de apenas 600 Portugueses) que aqui estão portugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os portugueses aqui têm tomates e não temem quem não os tenha!” in “Uma Curiosa Troca de Insultos” - "Homens, Espadas e Tomates".

Saudosos tempos estes, em que ainda havia tomates do tamanho de balas de canhão, agarrados a Portugueses. E dentes, porque em outra história de boa e fácil leitura, um soldadado Português, à falta de balas de mosquete, arrancou um dente e usou-o como munição...

Heróis, Espadas e Testosterona

Em "Homens, Espadas e Tomates", o Col. Rainer Daehnhardt reúne alguns exemplos épicos de coragem lusitana e do sacrifício individual de muitos Portugueses por esse mundo afora, quase sempre em desvantagem numérica avassaladora. Não fosse este último factor, poder-se-ia pensar que muitos dos actos de bravura e violência relatados, eram, vistos à luz mais humanista do presente, inconscientes exemplos de masculinidade.

Do ocidente ao oriente, o que mais impressiona é que a presença Portuguesa por terras alheias longínquas, foi sendo assegurada por um resumidíssimo punhado de homens, que, mau grado alguma superioridade na tecnologia do armamento, contou apenas com a sua coragem e o génio da gestão dos poucos contra os muitos – que para mais defendiam a sua terra e a sua religião…

Os Portugueses não defrontaram apenas indígenas “mal armados”; defrontaram exércitos numerosos e bem equipados de civilizações evoluídas e até um dos impérios mais poderosos e bem sucedidos do tempo – o Otomano – que tudo tentou para eliminar a presença Portuguesa da Ásia, a qual lhes veio estragar o monopólio do comércio das especiarias, que detinham até à abertura da rota do Cabo da Boa Esperança. Portugal, indirectamente, acabou também por contribuir para o abrandamento do ímpeto otomano na Europa de leste, salvando assim a Europa e iniciando a “idade de ouro” e de predominância da Europa, que duraria até a actualidade.

Enquanto assistimos às ficções de Hollywood, que na maioria dos épicos e filmes de acção nem tratam de figuras reais ou acontecimentos históricos, nem nos lembramos que temos muitos heróis, e alguns vilões, em histórias que dariam belíssimos filmes… porém, ainda que houvesse interesse, engenho e arte para passar tantos episódios épicos para a posteridade, nestes tempos do politicamente correcto e de tensão entre ocidente e oriente (como se viu com o filme “300”), seria sempre difícil avançar com um projecto semelhante, havendo em Portugal apenas um tímido exemplo, com o filme “Camões”…

9.6.07

O Código Da Vicente

Um povo sem memória é certamente um povo condenado a repetir os erros do passado. O pior, num país que apenas circunstancialmente se lembra da sua história impar, é certamente a maioria dos Portugueses não retirarem qualquer inspiração do melhor que o seu grandioso passado tem para oferecer... Uma das grandes deficiências que contribuem para esta situação, é a ausência de investimento na promoção da história nacional (com honrosas excepções), de uma forma que seja compreensível e envolvente para a generalidade dos Portugueses. Para além de nomes e datas, existe um exemplo, um significado útil, individual ou colectivo, por trás de cada acção histórica, que interessa muito mais explicar. A história, tal como a língua, é verdadeiramente a nossa identidade colectiva; o seu desprezo revela bem a falta de amor-próprio e a incompreensão dos nossos feitos passados. Aqueles que lutam para tornar a nossa história mais compreensivel, logo mais próxima de todos nós, encontram mais dificuldades do que apoios ou reconhecimento; mas o que importa afinal, não é a chegada, é o trajecto...

António Salvador Marques é um desses homens, que não tenho a honra de conhecer. Mas o seu admirável trabalho merece ser mais conhecido e mesmo ensinado - uma impressionante investigação a um dos mais famosos simbolos artisticos portugueses - os Painéis de S. Vicente de Fora (Museu de arte Antiga), explica e corrige, de uma assentada, várias incongruências associadas a essa obra e à "imagem de marca" da figura que tem sido apontada como o Infante D.Henrique (siga o link apenas se é daqueles que gosta de saber o fim, antes de ver o filme). António Salvador Marques vai de pista em pista, desmontando a enorme "charada" como ele lhe chama, sempre um passo à nossa frente, conduzindo-nos a surpreendentes descobertas e a ver o célebre políptico, literalmente com outros olhos. Concorde-se ou não com todas as intrepretações, somos convidados pelo autor a avaliar por nós próprios as respostas. E o que conta, não é afinal a viagem?

Para quem gosta de charadas e mistérios, não há necessidade de ir mais longe.