21.7.07

O 1º Português

Recentemente, devido à polémica entrevista do laureado Nobel, José Saramago, a memória histórica do Fundador foi alvo de muitos poortugueses, com "p" pequenino mesmo, que culpam o nosso primeiro rei pelo estado actual da nação por D. Afonso Henriques "inventada". Esses descontentes não perdoam ao primeiro monarca do condado Portucalense primitivo, a audácia de ter separado os destinos do que viria a ser Portugal e Espanha. Para esses "iberistas", aparentemente, a culpa de Portugal estar hoje na "cauda" da Europa, em quase tudo, deve-se à atitude "irreflectida" de um jovem da nobreza Portucalense, há quase 900 anos, que ambicionava para si honras e mordomias sem fim... honras e mordomias que estes "iberistas" estão prontos a receber, em troca da identidade de um país com as fronteiras consolidadas mais antigas da Europa, com um povo, uma cultura e uma língua homogénea, e uma história das mais singulares e admiráveis do planeta.

Por muita lógica que uma "Ibéria" unida tivesse, não há lógica nem honra em desdenhar dos antepassados que nos deixaram um legado, do qual só nos podemos orgulhar, seja qual for a leitura que se faça destes mais de 800 anos de história. História essa que nem começa em D. Afonso I, mas ainda mais atrás, em Viriato e nos povos independentes, que resistiram enquanto puderam à conquista romana. Ainda hoje se discute se esse desejo latente de autodeterminação sobreviveu através das eras, com o reforço mais tarde, de uma identidade Sueva no Noroeste Peninsular... seja qual for o final da discussão, e aceitando-se que existiram também interesses mais mundanos por detrás da emancipação Portucalense, a verdade é que o filho do Conde D. Henrique prosseguiu um rumo já traçado e trilhado anteriormente, inclusive por seu pai; sublinhe-se que a ambição pessoal e a vã glória de mandar não são marcas associáveis a um rei que preferiu lutar a sua vida inteira, na conquista, na defesa e na consolidação de um território que "ofereceu" à Santa Sé. Diz-se que quando faleceu, deixou os cofres do novo estado bem cheios, coisa que não ocorre nos dias de hoje...

Mau grado a má reputação que algumas "más línguas históricas" fazem circular, D. Afonso Henriques, enquanto político e militar, foi um homem que serviu, sem se "servir" do país, mesmo contra o partido da mãe (não consta que tivesse batido em Dª Tareja - ou Teresa, embora a tenha mantido cativa, por força da guerra que os opunha) e fez disparar a velocidade da reconquista cristã para sul, ocupando-se igualmente do povoamento das terras recém-adquiridas, que na sua maioria, ficariam a fazer parte do novo reino, de maneira permanente. Não fosse o precalço de Badojoz, com o infurtúnio da sua queda do cavalo, caíram também as esperanças de termos hoje um território mais dilatado (mapa 1168). No entanto, à hora da sua morte (1185), deixou-nos muito mais terra do que a que recebeu dos seu antepassados, e mais do que isso, deixou um território com alicerces bem assentes para o futuro.

Corajoso, manhoso e inteligente, foi admirado (e muito temido) pelos adversários, ficando conhecido pelos mouros como Ibn Anrique (Filho de Henrique), apesar de se aventar também a hipótese de que não seria verdadeirament filho nem de D. Henrique nem de D. Tareja, porque esse teria nascido muito débil e incapaz de vir a ser o guerreiro e o lider que a história regista... (a lenda diz que o fiel aio Egas Moniz terá conseguido a recuperação milagrosa do infante em Cárquere, enquanto outros dizem que terá substituido o enfermo principe por um dos seus próprios filhos, o que explicaría a tal suposta agressão à "mãe" adoptiva e a dedicação extrema do "aio".) O primeiro rei foi também o monarca que mais anos reinou, tendo deixado uma herança e um exemplo difícil de igualar. Quantos puderem dizer o mesmo ou mostrar obra parecida, esses podem então censurar semelhante personagem da nossa história colectiva.

Já agora, se alguém é responsável pela ruptura da unidade ibérica, os culpados são os mouros que invadiram a península em 711...

15.7.07

Depois dos Tomates, as Espadas

Depois de Colombo/Cólon, a descoberta da Austrália, e do Políptico dito de S.Vivente, outro mito aparece dismistificado, em "Homens, Espadas e Tomates". A páginas tantas, mais concretamente pág. 166 a 168, Reiner Dahnhardt demonstra magistralmente que a espada erradamente atribuida ao rei fundador D. Afonso Henriques, tão abundantemente representada na estauária nacional e no estandarte e equipamento do Vitória de Guimarães, não podia ter pertencido ao nosso primeiro monarca, simplesmente porque é anacrónica em relação às pesadas espadas e montantes que se usavam na altura da fundação de Portugal, no Século XII. É fácil dize-lo agora, mas a verdade é que sempre me impressionou como D. Afonso I poderia ter talhado um reino, com tão pequena espada... será mais como a espada da estátua à esquerda, que embora quebrada, representa uma espada mais contemporânia de D. Afonso Henriques. Conhecendo-se a tipologia das espadas utilisadas na primeira fase da era das Descobertas, entende-se melhor a origem dessa espada, e até o seu provável dono, também ele Afonso, e um monarca de Portugal

4.7.07

Heróis, Espadas e Testosterona II

Ainda sobre o livro e o tema descrito no post anterior, acho que ficou bem explicito o significado do titulo da obra; mas de qualquer maneira, para que não restem dúvidas sobre a quem pertenciam os “tomates”, aqui fica um breve excerto do que pode ser encontrado no livro:

Fica a saber (Suleimão Paxá, um eunuco turco que comandava um exército enorme, durante o 1º cerco de Diu, e que endereçou uma missiva insultuosa a António da Silveira, capitaneava uma guarnição de apenas 600 Portugueses) que aqui estão portugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os portugueses aqui têm tomates e não temem quem não os tenha!” in “Uma Curiosa Troca de Insultos” - "Homens, Espadas e Tomates".

Saudosos tempos estes, em que ainda havia tomates do tamanho de balas de canhão, agarrados a Portugueses. E dentes, porque em outra história de boa e fácil leitura, um soldadado Português, à falta de balas de mosquete, arrancou um dente e usou-o como munição...

Heróis, Espadas e Testosterona

Em "Homens, Espadas e Tomates", o Col. Rainer Daehnhardt reúne alguns exemplos épicos de coragem lusitana e do sacrifício individual de muitos Portugueses por esse mundo afora, quase sempre em desvantagem numérica avassaladora. Não fosse este último factor, poder-se-ia pensar que muitos dos actos de bravura e violência relatados, eram, vistos à luz mais humanista do presente, inconscientes exemplos de masculinidade.

Do ocidente ao oriente, o que mais impressiona é que a presença Portuguesa por terras alheias longínquas, foi sendo assegurada por um resumidíssimo punhado de homens, que, mau grado alguma superioridade na tecnologia do armamento, contou apenas com a sua coragem e o génio da gestão dos poucos contra os muitos – que para mais defendiam a sua terra e a sua religião…

Os Portugueses não defrontaram apenas indígenas “mal armados”; defrontaram exércitos numerosos e bem equipados de civilizações evoluídas e até um dos impérios mais poderosos e bem sucedidos do tempo – o Otomano – que tudo tentou para eliminar a presença Portuguesa da Ásia, a qual lhes veio estragar o monopólio do comércio das especiarias, que detinham até à abertura da rota do Cabo da Boa Esperança. Portugal, indirectamente, acabou também por contribuir para o abrandamento do ímpeto otomano na Europa de leste, salvando assim a Europa e iniciando a “idade de ouro” e de predominância da Europa, que duraria até a actualidade.

Enquanto assistimos às ficções de Hollywood, que na maioria dos épicos e filmes de acção nem tratam de figuras reais ou acontecimentos históricos, nem nos lembramos que temos muitos heróis, e alguns vilões, em histórias que dariam belíssimos filmes… porém, ainda que houvesse interesse, engenho e arte para passar tantos episódios épicos para a posteridade, nestes tempos do politicamente correcto e de tensão entre ocidente e oriente (como se viu com o filme “300”), seria sempre difícil avançar com um projecto semelhante, havendo em Portugal apenas um tímido exemplo, com o filme “Camões”…