Por muita lógica que uma "Ibéria" unida tivesse, não há lógica nem honra em desdenhar dos antepassados que nos deixaram um legado, do qual só nos podemos orgulhar, seja qual for a leitura que se faça destes mais de 800 anos de história. História essa que nem começa em D. Afonso I, mas ainda mais atrás, em Viriato e nos povos independentes, que resistiram enquanto puderam à conquista romana. Ainda hoje se discute se esse desejo latente de autodeterminação sobreviveu através das eras, com o reforço mais tarde, de uma identidade Sueva no Noroeste Peninsular... seja qual for o final da discussão, e aceitando-se que existiram também interesses mais mundanos por detrás da emancipação Portucalense, a verdade é que o filho do Conde D. Henrique prosseguiu um rumo já traçado e trilhado anteriormente, inclusive por seu pai; sublinhe-se que a ambição pessoal e a vã glória de mandar não são marcas associáveis a um rei que preferiu lutar a sua vida inteira, na conquista, na defesa e na consolidação de um território que "ofereceu" à Santa Sé. Diz-se que quando faleceu, deixou os cofres do novo estado bem cheios, coisa que não ocorre nos dias de hoje...
Mau grado a má reputação que algumas "más línguas históricas" fazem circular, D. Afonso Henriques, enquanto político e militar, foi um homem que serviu, sem se "servir" do país, mesmo contra o partido da mãe (não consta que tivesse batido em Dª Tareja - ou Teresa, embora a tenha mantido cativa, por força da guerra que os opunha) e fez disparar a velocidade da reconquista cristã para sul, ocupando-se igualmente do povoamento das terras recém-adquiridas, que na sua maioria, ficariam a fazer parte do novo reino, de maneira permanente. Não fosse o precalço de Badojoz, com o infurtúnio da sua queda do cavalo, caíram também as esperanças de termos hoje um território mais dilatado (mapa 1168). No entanto, à hora da sua morte (1185), deixou-nos muito mais terra do que a que recebeu dos seu antepassados, e mais do que isso, deixou um território com alicerces bem assentes para o futuro.
Corajoso, manhoso e inteligente, foi admirado (e muito temido) pelos adversários, ficando conhecido pelos mouros como Ibn Anrique (Filho de Henrique), apesar de se aventar também a hipótese de que não seria verdadeirament filho nem de D. Henrique nem de D. Tareja, porque esse teria nascido muito débil e incapaz de vir a ser o guerreiro e o lider que a história regista... (a lenda diz que o fiel aio Egas Moniz terá conseguido a recuperação milagrosa do infante em Cárquere, enquanto outros dizem que terá substituido o enfermo principe por um dos seus próprios filhos, o que explicaría a tal suposta agressão à "mãe" adoptiva e a dedicação extrema do "aio".) O primeiro rei foi também o monarca que mais anos reinou, tendo deixado uma herança e um exemplo difícil de igualar. Quantos puderem dizer o mesmo ou mostrar obra parecida, esses podem então censurar semelhante personagem da nossa história colectiva.
Já agora, se alguém é responsável pela ruptura da unidade ibérica, os culpados são os mouros que invadiram a península em 711...