20.3.07

“LUGARES HISTÓRICOS” EM PALMELA

O Auditório da Biblioteca Municipal de Palmela, local onde se realizou a apresentação do novo livro do Prof. José Hermano Sariava, sábado dia 10 de Março, foi pequeno para albergar cerca de centena e meia de populares que não quiseram faltar à palestra e à posterior sessão de autógrafos que o conhecido Historiador dinamizou, ao seu estilo.

O livro “Lugares Históricos de Portugal” foi encomendado pelas Selecções do Reader's Digest, que lançou um livro semelhante nos EUA, com grande sucesso. A diferença, salientou o Professor, é que há muitos mais espaços históricos em Portugal do que nos EUA “porque o que faz os lugares históricos “Não é o espaço, é o tempo!”

Esta edição é mais do que um livro de História. Dar a conhecer o património histórico, na perpectiva de promover o turismo, é a ideia subjacente por detrás da da obra.

“Nos somos um ponto único da Europa! O livro procura chamar a atenção para muita coisa que eu próprio não conhecia” - sublinhou.

Há muitas zonas do interior que se estão a sentir esquecidas e abandonadas; é por isso que o Professor, à beira dos 90 anos, faz as frequentes viagens que o levam onde pouca gente vai, para chamar a atenção para essas regiões cheias de coisas interessantes, para mostrar os motivos que as pessoas têm para lá ir. “Este livro, de certo modo, condensa o assunto dos programas. Eu não falo de nenhum sítio onde não tenha estado. Nada daquilo é escrito em segunda mão; é um resumo da minha experiência pessoal de passar por lá.”

Os Editores designaram cerca de 400 páginas para esta obra, mas, segundo o Professor, esse espaço não é suficiente para incluir todos os lugares históricos de um país com praticamente 900 anos. O Prof. Saraiva teve assim que limitar o número de terras que entraram nesta compilação, onde “as várias Lisboas” que compõem Lisboa (Medieval, Barroca, etc.), ocupam um espaço considerável e proporcional à sua importância como capital do país, desde há vários séculos. Como não podia deixar de ser, Palmela, a terra onde está radicado, também mereceu destaque - “Palmela é um dos mais extraordinários miradouros, na Europa!” Na sua opinião, é mesmo muito surpreendente que Palmela não tenha tido um lugar mais de destaque no concurso das “7 Maravilhas de Portugal”. O Historiador, ao seu jeito, disse que acha que não há “maravilhas” em Portugal, visto que fomos sempre um país pobre. Mas se tivesse que escolher um monumento nacional, “uma das jóias, menos comuns no mundo, e mais simbólicas, escolhia a Torre de Belém. É um monumento artístico, feito pelo rei D. Manuel I, para dizer “cá estamos nós, cá está Portugal!”. Mas conclui que a escolha não é fácil, quando existem tantos concorrentes, cada um com os seus valores. O mesmo se aplica em relação ao outro concurso do momento, “Os Grandes Portugueses”, cuja final será já no próximo fim-de-semana. “Não se pode comparar a Rosa Mota com o Egas Moniz! Gosto muito da Rosa Mota e gosto muito do Egas Moniz; mas entre os dois, como escolher? ”

O Prof. José Hermano Saraiva não hesita em afirmar que há interesse público pela História, e destaca o papel da RTP, que no seu percurso de meio século, tem prestado um serviço importante ao país. Já em relação à sua notada ausência na Gala dos 50 anos da Estação Pública, o Historiador referiu, modestamente, que a sua presença não era essencial.

8.3.07

“ALCIPE LUSITANA”

Nome de rainha, nome de mulher do povo, Leonor, segundo alguns, é nome de origem Árabe, para outros deriva do Grego, mas em ambas as línguas o significado aponta para “luz ou iluminação”.Távora, em contraste, é nome que significou tortura e sofrimento, no Século XVIII. Nascida em Lisboa em 1750, Leonor de Almeida Lorena e Lencastre, mais conhecido pelo seu título de Marquesa de Alorna, era filha primogénita do Marquês de Alorna e Conde de Assumar, D. João de Almeida Portugal, e de sua mulher, D. Leonor de Lorena e Távora. Essa herança de nome e de sangue aos Marqueses de Távora, executados a mando do marquês de Pombal, devido ao seu alegado envolvimento numa emboscada ao rei D. José I, foi funesta para a jovem Leonor, que aos 8 anos de idade foi enclausurada no Convento de Chelas, em companhia de sua mãe e sua irmã, já o seu pai foi atirado para os calabouços.

Os quase 20 anos que passou como reclusa não impediram que Dona Leonor recebesse uma cuidada formação linguística, literária e científica, coisa rara para as mulheres da época, mesmo as “bem-nascidas”. Leu obras dos maiores escritores iluministas, como Racine, Rousseau, Voltaire e Diderot, que cedo lhe despertaram o gosto pela literatura e pela poesia. Contudo, as leituras que mais a marcaram devem ter sido as cartas que o seu pai lhe enviava, escritas com o próprio sangue, à falta de outra tinta, no cárcere. Teve ainda como mestre o padre Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido pelo seu pseudónimo nos ciclos poéticos da Arcádia Lusitana, de Filinto Elísio. Também ela tomou, como era uso no tempo, o nome literário de Alcipe. As suas poesias libertaram-se das grades e alcançaram grande fama vindo mais tarde a ser publicadas sob o título de Poesias de Chelas.

Dona Leonor e a sua família, saíram finalmente da prisão em 1777, depois do afastamento do Marquês do Pombal, por ordem de D. Maria I que havia sucedido a D. José. Tinha então vinte anos. Pouco depois, casou com o conde de Oeynhausen, que viera a Portugal com seu primo, o alemão conde de Lippe, contratado em 1762 pelo marquês de Pombal para organizar e comandar o nosso exército. O casamento realizou-se em 1779, apadrinhado pela rainha D. Maria I e pelo rei seu marido, D. Pedro III. Partem em viagem pela Europa, passando pelas cortes de Espanha de França e de Áustria, sendo a marquesa e poetisa recebida e homenageada pelos respectivos monarcas, imperadores e até pelo papa Pio VI. Fica viúva aos 43 anos, em 1793, ficando com seis filhos pequenos a seu cargo. Foi viver primeiro para Almeirim, onde patrocinou o ensino de raparigas daquela vila e imediações; mudou-se depois para outra propriedade que também possuía em Almada. Apesar das dificuldades financeiras, recebe em sua casa célebres figuras da vida literária, como Bocage (Elmano Sadino) e mais tarde, Alexandre Herculano, entre outros frequentadores do seu salão cultural onde se debatem as novas ideias políticas e também as novas correntes estéticas e literárias. As suas ideias liberais, no entanto, não agradavam ao Intendente Pina Manique; porém, pior foram as invasões Napoleónicas do princípio do século XIX, que a obrigaram a exilar-se em Londres, entre 1804 e 1814. Continua a escrever poemas, mas tem o desgosto de ver a filha ser amante do invasor Junot. De regresso a Portugal, mais uma vez um membro da família havia caído em desgraça, pelo que ao fim de dez anos de muita luta, obteve a reabilitação da memória de seu irmão D. Pedro, que por ter integrado a Legião Lusitana que acompanhou Napoleão à Rússia (morrendo no regresso), fora condenado como traidor à pátria. Foi somente nessa época que passou a usar do título de 4.ª marquesa de Alorna, e 6.ª condessa de Assumar, como herdeira de seu irmão. Faleceu aos 89 anos de idade, deixando seis volumes de "Obras Poéticas" e sendo uma mulher Ímpar na sua época, uma das mais notáveis vozes do pré-romantismo em Portugal. Alexandre Herculano chamou-lhe a "madame de Staël portuguesa."